quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Talvez eu me arrependa

(Quero deixar claro que o que é dito nessa postagem é dirigido a ALGUMAS pessoas.)



Aqui estou eu, para mais um post que não contém uma crônica, um conto e nem um trecho de algum livro meu. Não é minha intenção fazer deste blog um diário ou algo do tipo, mas sei que o motivo que me traz à esta postagem é válido e nobre. Portanto, peço paciência e até atenção. Estou aqui para pedir desculpas.

Eu venho magoando algumas pessoas há um certo tempo.

 Certa vez, um personagem de uma das minhas histórias disse que quando somos muito magoados, só o que conseguimos fazer é magoar os outros. É estranho que só depois de tanto tempo eu consiga ter uma noção completa do significado dessa frase.
 Depois de ter sido pisada e deixada para trás tantas vezes e por tantas pessoas, eu decidi simplesmente desistir. Desisti de fazer qualquer esforço para confiar em alguém. Quando se espera o pior de tudo, qualquer coisa boa que possa vir será uma grata surpresa.
Não somente por isso, mas também pelo fato de que desisti de acreditar que qualquer pessoa poderia realmente gostar de mim, costumo repetir a frase "não tenho amigos" ou "estou completamente sozinha e sem ninguém em quem possa confiar". As vezes até como um mantra, para me convencer disso e me impedir de cultivar qualquer esperança.
 Muitas pessoas que ouviram essas frases se sentiram instantaneamente magoadas. A grande maioria delas, de fato.
  É um impulso natural do ser humano. Precisamos nos sentir queridos e necessários, mesmo pra uma pessoa que não seja nem um pouco significativa em nossas vidas. É um golpe quando nos vemos rejeitados de alguma forma.
 Por isso, por muito tempo, disse essas frases sem sentir culpa alguma pela mágoa que causava, pois via como simples mesquinharia de quem se magoava.

 No entanto, por mais que eu tenha tentado ignorar, eu sei que várias pessoas não mereceram tal mágoa.


 É estranho reconhecer que algumas das pessoas que conheço nutrem sentimentos verdadeiros por mim. Até porque não vejo muito sentido nisso. Mas preciso partir deste princípio para dizer o que vou dizer. Então, que seja.

 Por algum motivo que eu não consegui decifrar até hoje, algumas pessoas aguentaram meus ataques de mau humor, minhas crises de depressão, e aguentaram me ouvir dizer na cara delas inumeras vezes que nós não tínhamos qualquer ligação.
 Algumas pessoas permaneceram do meu lado quando eu apresentava minhas piores características, algumas até sem reclamar. Apareceram na minha casa e me desejaram parabéns mesmo que eu não tenha sequer telefonado no dia de seus aniversários.
 Eu reconheço meu egoísmo.
 Algumas pessoas sequer sonhavam em me conhecer quando fui extremamente magoada por outras pessoas, e acabaram sofrendo as consequencias disso mesmo assim.

 Me ouviram reclamar e contar minhas histórias, que nada tinham a ver com suas vidas. Permaneceram do meu lado e me ajudaram de várias maneiras com problemas que nada tinham a ver com os seus. Me disseram sinceras palavras de conforto mesmo que estas não fossem trazer qualquer vantagem ou retorno.

 A estas pessoas eu peço perdão. Eu peço que entendam minhas sequelas e não se magoem pelas palavras cheias de espinhos proferidas por mim, pois elas são dirigidas a outros, a fantasmas obscuros do meu passado.

 A estas pessoas eu agradeço sinceramente, por tudo.


  A estas pessoas eu dedico o pequeno cômodo aquecido no meu distante e inalcaçável castelo de gelo.

Por mais que seja extremamente difícil demonstrar, eu dou valor a cada um de vocês. Silenciosamente eu esqueço os meus medos, inseguranças e cicatrizes quando vocês estão ao meu lado, e quando vocês não estão, eu sinto cada um deles rastejando de volta para mim. Por isso estive evitando qualquer proximidade. Simplesmente medo de baixar a guarda e me desacostumar com a solidão que cultivei por tanto tempo.

 E toda a vez que vocês me ouvirem falar alguma merda dessas que eu costumo dizer, peço que voltem a este blog e releiam atentamente cada uma dessas palavras, elas são muito mais verdadeiras que qualquer coisa que eu tenha dito.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Wide Awake


Minha insegurança é minha zona de conforto. Não crio expectativas quanto a mim, não falho. Também me saboto para que eu não precise atender a expectativas de outros. Por anos tenho arrumado mais e mais motivos para não me arriscar começando algo novo. (Disse 'motivos' e não 'desculpas'). Agora estou tentando ter mais paciência comigo mesma para matar meus monstros um a um, ou, dane-se, todos de uma vez. Uma verdadeira chassina de fantasmas interiores.

 E aqui estou eu, usando collant, meia calça e sapatilhas. Aprendendo de vagar como uma criança de cinco anos, até que recupere minha auto confiança e tenha coragem de me jogar completamente, e assim fazer as coisas andarem muito mais rápido.
Aqui estou eu, entrando em aulas de canto, tentando perder o medo de realmente gritar o que eu sinto, sem medo de me expor a todo mundo dessa maneira.

E aqui estou eu, mandando muitas pessoas irem se fuder =)


Sobre isso, uma palavra: LIBERTADOR.

 Todos nós temos em nossas vidas pessoas que não contribuem nada para nós, e ainda assim nos cobram como se tivéssemos obrigações inadiáveis com as mesmas. Como se fossemos obrigados a atende-las de prontidão e as acolhermos em nossas vidas. E fazem de tal jeito que acabamos convencidos disso. Quem já passou por isso levante a mão!

O problema é que muitas pessoas não mandam esses indivíduos irem pastar por puro medo de enfrentar as consequencias. Claro que depois que você mandar a pessoa ir se fuder ela vai te odiar, reclamar, falar mal de você para Deus e o mundo, e talvez você tenha que mandar tantos, que acabe praticamente sem 'amigos' ao seu redor (oi =D ). Mas, acredite, compensa não ter que carregar esse peso. Então, chega de hipocrisia e vamos assumir nossos verdadeiros sentimentos, certo?

 
 Eu quero vencer todas as minhas inseguranças quanto a mim mesma e ter minha liberdade. Quero voltar a ter coragem da fazer o que eu quero fazer, não importa quantas quedas eu sofra no caminho, porque perdi o medo de que os outros vejam meu sangue.



 Agora, quanto as minhas inseguranças sobre outras pessoas, essas vão permanecer. O ser humano já me provou ser podre e indigno de confiança ha muito tempo...



"Freedom begins when you get out of the cage you built"
Wide Awake (Lacuna Coil)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mais um pedaço


Lia passeava pela casa. Parou em frente ao microondas. Três e meia. A garota suspirou, estivera fritando na cama por cinco horas seguidas e não pregara o olho, sequer um cochilo. Abriu a geladeira, mesmo sabendo que não encontraria nada dentro. Água, alface, mamão, maçãs; fez uma careta. Fechou a porta do eletrodoméstico e respirou fundo, procurando diminuir a agitação.
Há várias noites sua situação era a mesma. Simplesmente não conseguia dormir, não importava o quanto tentasse. Testara chás, contar carneiros e até tomar relaxantes musculares; nada adiantara. Era como se algo estivesse errado, fora do lugar. A garota andou preguiçosamente até a sala, onde se jogou em um dos cantos do sofá. Permaneceu ali, encolhida, observando os desenhos que a luz do poste sobre a cortina de renda produziam no chão.
 Após alguns minutos, algo sobressaltou Lia, que pulou do sofá, assustada. Poderia jurar ter visto uma sombra cruzar aquele desenho. Das opções, uma com certeza acontecera. Ou algo passara sobre a lâmpada do poste, ou na varanda, ou ali mesmo na sala. Ou ela estava mesmo insana.
Pela forma e velocidade da sombra, só poderia ser a última hipótese. Mas por que aquela sensação, então? Como se as coisas estivessem voltando para o lugar? Nos últimos dias, Lia sentira como se houvesse algo faltando. E agora, depois de ver aquela sombra tão breve e efêmera, sentia algo diferente. Não como se tudo estivesse no lugar, mas como se isso fosse acontecer em breve. Como quando se sabe que alguém de quem se sente muitas saudades está prestes a retornar de uma longa viagem.  Mordendo o lábio inferior, Lia levantou do sofá e afastou a cortina que cobria a janela, procurando algo de diferente do lado de fora. Não estava com medo. Na verdade, desejava que realmente houvesse algo ali, algo que a fizesse lembrar do que ela sabia que esquecera. Algo que a fizesse sentir em casa. Seus olhos se dirigiram ao céu. Lá, sobre o manto negro, uma lua cheia e amarelada a saudava, tão solitária quanto a adolescente, que tinha agora o olhar borrado pelas lágrimas. “Mas o que está acontecendo?” pensou. Fechou os olhos com força, impedindo as gotas de caírem. Sacudiu a cabeça e fechou a cortina, com um suspiro, o coração estranhamente acelerado. Voltou para o sofá e fechou os olhos, cansada. Não demoraria um minuto até que caísse em sono profundo.

Castiel olhou mais uma vez pela janela, nervoso. Ela quase o vira. E se visse, o que faria? Queria convencer a si mesmo de que não se mostrava para não assustar a garota. Mas sabia que era simplesmente medo de que Lillian não o reconhecesse. Não sabia como conseguiria encarar o olhar de dúvida, o vazio na expressão tão querida quando ele se apresentasse. Por entre os espaços da renda, viu que a garota já dormia. Respirou fundo, concentrando-se para adentrar ao aposento.
Ela dormia, serena. A respiração suave e regular. Castiel observou, estupefato, os traços delicados da garota a sua frente. As sobrancelhas em um desenho suave sobre os olhos cujo verde permanecera impossivelmente intacto. Os lábios de contorno definido estavam cerrados em uma linha reta, a cortina escura formada pelos fios longos e soltos cobria a almofada, alguns fios sobre seu rosto. Parecia tão frágil enquanto dormia, com os braços cruzados, protegendo o corpo do frio. Com cuidado, tocou-lhe suavemente a face. Lutou contra as lágrimas. Se alguma dúvida houvesse resistido, ela teria se esvaído completamente naquele momento, como areia ao vento. Todos aqueles sentimentos. A vontade quase incontrolável de abraçá-la, sentir seu corpo abrigado sob o seu.
- Lillian. – Sussurrou, comovido.
Lembranças de anos anteriores o invadiram violentamente. Imagens que ele houvera lutado para não rever em sua mente. Lillian correndo, esbarrando com ele na floresta. Sorrindo um sorriso breve e tão precioso enquanto olhava para ele. O acompanhando até a porta de sua casa. Em seu colo, gemendo de dor pelo tornozelo quebrado. Em seus braços, suspirando de prazer. Com a mão em seu rosto, tentando consolá-lo. Com lágrimas nos olhos enquanto ele se afastava. Ensangüentada, enquanto ele gritava. Uma lágrima amarga escorreu por sua face. Com o peito pesando de remorso, beijou a face de Lia demoradamente, sentindo a pele suave sob os lábios, e partiu.
(...)
- Castiel! – O grito saiu em um movimento involuntário, como respirar. Ela arregalou os olhos, ofegante. Um nome. Nada além de um nome. Um nome que, mesmo tendo sido pronunciado pela primeira vez, lhe soou como se o tivesse chamado outras milhares. E um nó no estômago que a deixava angustiada. Ela levantou do sofá, ainda confusa, para olhar mais uma vez no microondas. Três e cinqüenta. Coçou levemente o rosto, que formigava. Em movimentos automáticos, dirigiu-se de volta ao sofá e deixou que suas pálpebras pesadas se fechassem novamente.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Delírio


Andando. Gostaria de poder dizer que tudo o que ouço é o barulho de meus próprios passos. Não posso. Tudo o que ouço são os murmúrios dos fantasmas a minha volta. Eles me pedem para continuar no escuro, mantê-los vivos e bem alimentados.
Eles vivem de dor, eu os alimento. Mas não é em troca de nada, eles me mantém longe da crueza da realidade, uma rosa espinhenta sem pétalas.

É como uma madrugada. O frio, o escuro, a neblina. E aquela tímida claridade ao fundo, anunciando os futuros raios solares. Eu ando. Escutando meus fantasmas e olhando para o céu, ao fundo.

 Eu tenho muitos anos vividos; o mundo real me diz que não, mas este aqui diz que sim. Eu tenho asas, sujas e quebradas; o mundo real diz que sou insana, eu vôo aqui. Eu arrasto correntes. Os dois mundos sabem que sim.

 Eu ando. Os raios de sol se tornam cada vez mais eminentes. Os fantasmas dizem “fique. Fique”. O sol me chama. “Preciso ir” respondo, em tom de súplica. Amo-os. Alimentamo-nos mutuamente e de maneira doentia. Mas não posso ficar. Preciso viver e mostrar que estou bem, as pessoas do mundo real não podem saber. Elas julgam, elas condenam.
 Os raios surgem e eu volto. Cores, alegria. Tudo representado e falso. Pessoas rindo de tragédias, sorrindo vaziamente. Uma rotina maçante. Pessoas, pessoas, pessoas, monstros. Me assustam. A rosa espinhenta sem pétalas. Sangue transparente escorrendo de seus espinhos, minhas lágrimas. Mas eu ignoro a dor e sorrio, é o que se faz aqui. Responda os ataques com um sorriso, eles não podem saber que o atingiram. Respirar fundo, contar. Mude-se para que possa se encaixar em uma forma que não é a sua. Mas está tudo bem, você consegue. É o que se faz aqui. Viver, viver! 

Agora o céu vai se tornando escuro novamente. Os fantasmas chamando meu nome, alegremente, eu aceno para eles. Com a caneta na mão, escrevo-lhes um retrato, alimentanto-os. O sol se põe. Eu ando, eu corro, para eles. E percebo que é apenas em um mundo em que quero e devo ficar. Mas como não ser arrastada de volta todos os dias pela realidade? Romper o fino fio que me prende ao lado errado. Algo que rompa a proteção do fluido vital que me faz abrir os olhos e lutar contra a maré, todos os dias. Algo que rompa. Uma linha horizontal, dolorosa.
 Sim. A rosa espinhosa e, enfim, com pétalas vermelhas, que vão se tornando cada vez mais carmins conforme os segundos passam. Estou em casa.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Um assunto leva ao outro

  Bem, como vocês podem perceber, decidi não deletar o blog.
Primeiro porque, além desse comentário solitário aí em baixo, várias pessoas vieram me pedir para manter esse espaço; além de eu ter encontrado mais ou menos umas cinco pessoas com poemas meus no profile do orkut (sem contar as que pediram minha permissão antes).
 Sabe, esse último fato me deixa muito irritada e feliz ao mesmo tempo. Fico lisongeada em saber que alguém gostou tanto de meu poema que queria que fosse seu... mas meio que p*ta da vida de ver que a pessoa teve a cara de pau de realmente fingir que foi dela. Poxa, e o reconhecimento do meu trabalho, onde fica?


 Acho que cada um de nós tem o direito de se expressar e de ser nada além de SI MESMO. Esse direito nos tem sido negado, muitas vezes sem que percebamos. Se começarem a prestar atenção, vão poder ver mais claramente.


 Todos os dias, todos os minutos, somos violentamente bombardeados com conceitos que não são os nossos, mas que somos obrigados a engolir porque a "maioria" pensa assim. Digo "maioria" porque é a mentira mais descarada na qual acreditamos (sim, uma mentira mais descarada que os políticos. Ganha de todas as mentiras).
 Eu duvido muito que tantas pessoas realmente queiram andar por aí vestindo uma calça verde, uma blusa rosa, um par de tênis amarelos, meias azuis e cabelos loiro-farmácia. Realmente duvido. Mas a TV, a internet e as revistas adolescentes (as maiores inimigas da humanidade) mostram isso com tanta naturalidade que quem tem a mente mais fraca acaba sucumbindo facilmente (sim, fã de Cine, estou te chamando de ACEFALO). Assim como duvido ser verdade que tanta gente acredite, do fundo do coração, que ser diferente é uma coisa ruim (não venham me encarar com essa cara de 'você é louca'. Quantas vezes você viu um amigo ou conhecido ou parente ou whatever dizendo ou vestindo algo fora do convencional e o censurou?). DUVIDO que tanta gente vestiria as roupas que veste se não houvessem milhares de outras pessoas vestindo, se houvesse outras opções realmente visíveis, se não tivessem medo de ser censuradas.



  Agora, por tudo que é mais sagrado (eu acho que o que há de mais sagrado é a liberdade) abram os olhos e vejam: A MAIORIA NÃO EXISTE.
 A "maioria", na verdade, não passa de algumas pessoas que trabalham nos bastidores de TVs, revistas, sites, rádios, passarelas etc. e que decidem o que mostrar a nós. E depois muitas, mas MUITAS pessoas que engolem isso sem sequer mastigar, acreditando que se está ali, é a verdade, é o que temos que fazer.




  E eu também duvido que as pessoas que copiaram meus poemas e colocaram em seus profiles realmente sentissem ou acreditassem naquilo como se fosse de autoria própria. Porque, se isso fosse verdade, elas o teriam escrito. Ou pelo menos feito algo parecido com aquilo.


 O que eu quero dizer, leitor que teve paciência de ler até aqui, é que: não é porque você acha uma coisa bonita ou muito legal, ou FODA mesmo, que você tem que copiar aquilo como se fosse seu.
 Não é porque você achou aquele cara de roupas coloridas bonito que você tem que vestir roupas coloridas. Não vai ficar em você igual ao que ficou nele.


 Se pararmos para pensar, achamos legal o que achamos legal porque nos parece uma coia nova e única. E, apartir do momento que copiamos, não é mais uma coisa nova e única. Não é original.


 Nós admiramos as pessoas que tem coragem de ser elas mesmas e quebrar os padrões.
 Se quer ser legal como essas pessoas, não as copie fazendo delas um padrão. Faça como elas e SEJA VOCÊ MESMO, NÃO IMPORTA O QUE PENSEM






essa é a mensagem de hoje
obrigada pela paciência =p

sábado, 20 de março de 2010

Pensando sériamente

Após mais uma das tantas vezes acessando meu blog e vendo a chuva de "0 comentários" começo a me questionar sobre meu objetivo e sobre se devo continuar aqui.

 Eu escrevo para desabafar, contos, romances, crônicas, poemas. Ou escrevo para tentar mudar o pensamento da sociedade, que seria o caso de meus artigos (que passei a publicar nos outro blog, Alfinetes e Penas, depois que o site Sombrias Escrituras, onde era colunista, passou por reformulações).

 Sempre escrevi para desabafar, me ajuda a viver e respirar melhor. Mas, se ninguém está interessado em minhas reflexões, o que eu realmente estou fazendo aqui?
 Quem me conhece sabe que eu nunca fui uma pessoa que clama por popularidade. O que eu faço aqui posso, da mesma maneira, fazer em um caderno, em  meu quarto, sem precisar expor na internet para que qualquer um veja.

 Comunico que estou pensando sériamente em deletar meus blogs.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Teaser do mais novo projeto

Castiel acordou com uma dor repentina no estômago
 - Ei! - ouviu uma voz gritar. A dor repentina mais uma vez - Levanta!
Com o braço em volta da barriga, virou para o outro lado, tentando voltar a dormir. Deveria ser algum tipo de sonho. Mas a dor voltou, alguns centímetros abaixo do lugar que seu braço protegia.
- Castiel! - A voz era séria, um certo tom de desprezo.
Com muito esforço, Castiel abriu os olhos, que a forte luz do sol feriu imediatamente. A luz apenas o permitia ver o contorno de um corpo pequeno, escuro. Mas não era preciso realmente ver para saber quem estava ali. Lillian o chutava com força, para acorda-lo, os braços cruzados. Ela o mirava, imóvel.
Como percebesse ele acordado, passou a usar o tom de voz baixo, porém o desprezo se tornou mais perceptível.
- Seu pai está preocupado.
Castiel permaneceu imóvel, ainda semi consciente. Lillian suspirou e o puxou pelo braço.
- Levanta. - e, após suspirar de novo, acrescentou - está fedendo à cerveja.
A ajuda foi simbólica. Castiel era muito maior que Lillian, que jamais conseguiria levantá-lo sozinha. Ela agora caminhava pacientemente ao lado dele.
- Essa não é uma bebida da qual você deveria abusar. - Ela não o olhava nos olhos enquanto falava. Olhava para frente, ainda séria.
- Me ajuda - sua voz rouca custava a sair.
- É o que você pensa.
A conversa aí cessou.
 Enquanto caminhava, com Lillian em silêncio ao seu lado, Castiel deixava os pensamentos fluírem.
Não sentira raiva quando soube que era ela quem o agredira, porém a dor de ouvir o desprezo em sua voz foi mais forte que a que os chutes que recebera proveram. Não sentira vontade de agradi-la de volta como teria sentido caso fosse qualquer outra pessoa em seu lugar. Parou para pensar em um motivo. Talvez fosse porque ela era a que realmente se importava com ele. Talvez...
- Não vou te acompanhar até lá dentro, você precisa conversar com seu pai. - A voz era ainda séria.
Acordando de seu devaneio, percebeu que já estava em frente a sua casa.
 Lillian virou as costas e começou a caminhar, mas foi interrompida. Castiel a segurara pelo braço, firmemente, mas como cuidado de não machucá-la.
 Sua voz saiu baixa, quase inaldível. Mais por constrangimento que pelos efeitos da noite anterior.
 - Obrigada.
Ela pos a mão suavemente sobre a sua, acariciando-a por uma fração de segundo, e fez com que a soltasse, com um igualmente breve sorriso, para logo depois retomar seu caminho.
"Eu vi isso" ele pensou, feliz "por mais que ela tenha tentado disfarçar..."
Suspirou e se preparou para encarar a fúria paterna. Não seria a primeira vez. Mas, certamente, a primeira em que tivera apoio...

sábado, 13 de março de 2010

Para provar que nem tudo são lágrimas pretas...

(o post mais sem noção)

Eu sempre soube que o colégio me fazia mal, mas não tinha noção do quanto até começar a faculdade.
 Que diferença absurda acordar de manhã sabendo que vou simplesmente aprender o que gosto. Eu acordo feliz! Isso porque eu tenho aula no SÁBADO DE MANHÃ. Eu acordo feliz! Percorro o caminho feliz e fico feliz durante as aulas.

 Eu ri quando soube que o carinha da outra sala não gosta de mim porque na primeira aula eu disse "odeio adolescentes." Sem um pingo de irritação, nojo ou preocupação.
 Eu faço o dever de casa! Eu dou risada e me divirto durante as aulas!

 Coisas improváveis, coisas improváveis...

Mas, calma, caros leitores. A que vos fala jamais abandonará os posts depressivos. Afinal, eu ainda tenho todo o resto da minha rotinha, que não se resume à faculdade. Conseguem me imaginar fazendo poesias coloridas? NEVER!
 É como aquela música... Todo mundo só lembra e repete a mesma frase "é melhor ser alegre que ser triste" e simplesmente ignora a "para fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza" e essa sim, amigos, é a minha parte favorita da música que eu nem gosto. Porque ela é puramente verdadeira. (Mesmo que não se esteja fazendo um samba, e sim poesias)

 Além de tudo isso, ainda há o bônus: um novo jeito de aprender, criado pelo meu amigo Daniel. Caso você esteja do lado pink da força, e esteja com problemas para entender regras gramaticais em inglês, ele te ajuda.

vejamos alguns exemplos tirados da aula de hoje:

5- It’s good to run. Running is good.


Arraza substantivando o verbo, ou seja deu a loka virou sujeito faz a bonita e coloca “ing” no final.


7-I work as waiter. I work like a dog.
Essa pirikita é um pouco mais complicada, então para de graça e presta atenção.



8- the waiter was obligated to apologize to my parent for being so rude with him.
Sorry but that pussy again is “apologize” that need have “to” and “for”.. my ass honey :P


(e o professor não entendeu o porque de eu estar rindo alto no meio da aula...)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ciclo vicioso, mortal.

As vezes uma sensação de profunda solidão me atinge. Como se faltasse algo essencial em mim, como se eu fosse uma pessoa cujo sangue carrega veneno mortal, esperando por um antídoto.
 É estranho. Sempre preguei a solidão como a melhor saída, e em alguns momentos é como se fosse a pior das torturas.
Ao mesmo tempo, simplesmente não me é possível acreditar que alguém comum, vivo, humano, pudesse preencher essa lacuna em meu peito. Mais uma vez me sinto fadada ao sofrimento eterno. Desejando desesperadamente algo inexistente, impossível. Corro então para encontrar alívio na felicidade inexistente mas alcançável: vou ler um livro.
Magicamente, então, não existe o sofrimento, não existe a realidade, não existe o vazio. Como se houvesse escapatória, um lugar onde existe um sentido para os sentimentos mais intensos.
 Eis-me mais tarde diante da última página, o desfecho que me retorna ao lugar de onde vim, de onde fugi. Eis-me então agonizando novamente, contemplando um mundo no qual simplesmente não sirvo. No qual todos são personagens, como em livros, mas bizarramente construídos com base nos gostos de um leitor abstrato e de exigencias impossíveis de se satisfazer antes de se entregar à loucura.
 E corro para mais um abrigo, e ele se acaba novamente.
  Um ciclo vicioso e mortal de desespero e falso alívio.

Não importa qual dos caminhos escolha, o final é sempre a loucura.  Loucura de não encontrar um lugar, loucura de transformar-me em algo completamente diferente de mim para fazer parte do lugar que já existe.

 E me pergunto se cheguei à loucura da esperança. De, no canto obscuro da mente, ainda acreditar que há o que preencha a lacuna que sangra silenciosamente, doendo e implorando sem um ruído...

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Passado Vivo


Nunca tive problema com ruas escuras e desertas. Na verdade, tenho uma sensação reconfortante quando passo por uma rua assim, não sei direito o porquê. É quando eu tenho o sentimento mais próximo do que chamam de paz. O silencio, a ausência da luz que fere meus olhos e me expõe.
 Era em uma rua exatamente assim que eu passava no caminho de volta da faculdade. Havia saído mais ou menos uma hora e meia mais cedo do final da aula, que acaba as dez da noite. Mas naquela rua era como se fossem várias horas mais tarde. O silencio e a escuridão lembravam a madrugada. Permiti-me entorpecer por alguns minutos, a estranha sensação de paz tomando conta de mim. E fui andando sem prestar muita atenção em meu destino.
 Quando me dei conta, já estava lá. O lugar que eu evitara durante todos os dias em meu percurso para a faculdade, desde que começara meu primeiro ano, há algumas semanas, o lugar responsável por grande parte das minhas cicatrizes. Quando me dei conta, já estava lá, em frente a minha antiga escola.
 Desde o primeiro dia de aula, eu andava tomando o cuidado de passar sempre na outra rua. Se eu não olhasse para o lado, não a veria, não me lembraria. Bastaram alguns minutos de distração para que todo o autocontrole construído cuidadosamente fosse buraco a baixo.
 Surpreendi-me olhando por entre as grades do portão, estagnada. Era simplesmente mais forte que eu. As cenas brotavam diante de meus olhos como flashbacks estúpidos dos filmes mais clichês. Eram absurdamente reais.
 Estudara naquele lugar da segunda à sexta série, o período mais longo que já permaneci em uma escola.
 Ali estava eu, aos dez anos, carregando uma mochila de carrinho, passando pela quadra e adentrando ao pátio pelo portão lateral. Podia ver a coordenadora entrando com o carro pelo portão grande. As portas da frente do colégio sempre fechadas. Eram apenas para pais e visitantes. Sempre me revoltei com aquilo. As portas da frente eram o acesso mais rápido, tanto ao pátio quanto as salas de aula, mas éramos obrigados a dar uma volta enorme e passar pela lateral. Me sentia como um cachorrinho obrigado a usar sua portinha.
 A mochila de carrinho também me irritava. Era difícil arrastá-la pelo chão de cimento, era difícil carregá-la escadaria a cima para a sala de aula. Chegaria a carregar dez quilos por três andares.
Passaria pelo portão lateral, esperaria alguns minutos no pátio até que o sinal tocasse e subíssemos para as salas, onde a pior parte sempre acontecia. Chacotas apenas ou agressões mais consistentes. A solidão nunca me incomodou, o que machucava era ser obrigada a estar em companhia de pessoas que faziam questão de apontar cada um dos meus defeitos, inclusive os inexistentes.  Era uma espécie de esforço sobre humano que eu fazia para caminhar passo após passo até estar lá dentro.
Acordar às seis da manhã, lavar o rosto, escovar os dentes. Por a roupa, andar até a ponte e pegar a barquinha. Chegar ao outro lado e pegar a perua. Tudo para descer bem em frente às portas do inferno.
Claro que não eram as portas do inferno, era simplesmente assim que eu me sentia ao chegar lá. Claro que aquelas crianças não eram monstros, era simplesmente como eu as via. Mas a dor era muito real. As agressões de todos os tipos também.


 Eu ainda ouvia o murmúrio típico de um dia começando em uma escola de disciplina rígida. O murmúrio se tornava um ruído realmente irritante quando as crianças que eram cuidadas na creche ao lado chegavam em grupo. A tão querida calma, tão rudemente rompida.

As minhas mãos ainda seguravam as grades do portão. E eu imaginava como era possível ver a mim mesma, anos atrás, andando ali, na minha frente. Fazendo o mesmo caminho de todo dia, de cabeça baixa e indiferente a minha presença.
Algumas coisas estavam diferentes. Os bancos, antes singelos, agora eram feitos de mármore. Os muros haviam ganhado altura, com o acréscimo de algo que parecia com uma série de janelas de vidro. Olhei para cima e vi que uma luz do ultimo andar estava acesa, imaginei quem estaria ali. Me lembrei da escadaria na qual eu penava, carregando a mochila. Segundo uma estudante que um dia viraria minha amiga, havia uma escada rolante agora. Uma escada rolante na escola. Como aquilo teria me ajudado. Como aquilo provavelmente dobrara a mensalidade...


Um pequeno grupo de pessoas passa por mim. Percebo que eu estou fazendo um grande esforço, praticamente enfiando minha cabeça entre as barras para poder enxergar, inconscientemente.
Aquela cena deveria estar sendo bizarra para quem assistia. Uma garota andando normalmente pela rua, para repentinamente na frente de uma escola, põe as mãos nas barras do portão e passa vários minutos observando o local. Será que alguém chamou a polícia para denunciar tentativa de invasão?
Mesmo notando essa situação, minha mente insiste em ficar divida entre o presente e o passado, quase um tranze. Eu poderia ficar a noite inteira ali, vendo tudo acontecer de novo diante dos meus olhos. Eu tento voltar à realidade, mas quando viro o rosto meus olhos param na quadra, e eu me vejo ali, entrando para treinar handball. Correndo para não chegar atrasada e amaldiçoando quem teve a idéia de colocar os horários da educação física no sábado de manhã.
Há um grupo de homens do outro lado da rua, me olhando, talvez. “Hora de voltar ao presente. Por favor, vamos!”. Por mais insano que o apelo pareça, minha mente finalmente voltou a me obedecer. Ainda não vejo a escola totalmente vazia, as lembranças estão meio vivas, mas eu me obrigo a ir embora. O que é passado é passado. Não há como mudar, não faz sentido voltar.


Queria prometer a mim mesma que tudo havia acabado, mas era difícil me convencer enquanto meu me afastava ouvindo gritos e risos de crianças ao fundo...


Despertar

parte 1

O vento frio fez com que seu coque se desmanchasse, e uma gota gélida sobre sua testa fez com que sua pele se arrepiasse, apesar de sua completa indiferença quanto a isso. Seus passos pareciam seguir o ritmo com o qual as árvores balançavam ao sabor do vento. Lembrou-se de uma história antiga, na qual as árvores espertas permitiam-se dobrar seus troncos e galhos ao vento, enquanto as estúpidas ou orgulhosas recusavam-se a se dobrar em uma tempestade e perdiam galhos... Ou a vida. Pensou que talvez nunca fosse capaz de ser uma árvore com instinto de sobrevivência. Jamais havia dobrado um galho sequer.



Elizabeth tentava não respirar enquanto a criada apertava seu espartilho com movimentos bruscos.
- Fora de moda. – Disse, em um tom entediado, como se falasse consigo mesma.
- Ainda assim, muito bonito. – ouviu a criada responder em um tom educado.
- Sim, bonito. Para impressionar os cavalheiros que aguardam no salão, como se eu fosse uma peça a ser leiloada.
Um ranger vindo da porta de madeira maciça alertou a entrada de mais alguém no quarto.
- Sem dramas, Liza.
Elizabeth revirou os olhos antes de se virar para encarar a prima.
- Veio buscar algo, Catherine?
O tom exageradamente meigo com que a resposta “vim apenas ver que fantasia vai usar esta noite” foi dito, denunciou propositalmente a falsidade. Ainda assim seu olhar continuava manso e amigável.
- Ainda não sei. Apenas sei que tem de ser algo com esse gracioso presente dado a mim por meu pai.
Catherine se aproximou da penteadeira, seu reflexo no espelho aparecendo por trás do de Elizabeth, e tocou os fios loiros, enquanto dizia
- Espero que este sarcasmo não tenha sido usado na hora de agradecer ao tio. Isso poderia magoá-lo.
O burburinho vindo do salão se fazia audível agora. O abrir e fechar de portas, os comprimentos, conversas animadas sobre futilidades. Elizabeth suspirou e, durante alguns segundos, observou o espelho. O contraste entre seu reflexo e o da sua prima. Ela com os cabelos loiros, olhos azuis e apele muito alva. O vestido no mesmo tom delicado dos olhos, asas delicadas de borboleta brotavam de suas costas. Elizabeth com os cabelos em um tom intenso de ruivo, os olhos verdes e vestido escuro, combinando com o desconfortável espartilho. As duas se conheciam há mais ou menos um ano, quando Catherine havia voltado da casa de seus tios, na frança. Mas a fama, como de costume, antecedia a pessoa em si. Catherine sempre havia sido a melhor sucedida. Era uma perfeita dama e seria pedida em casamento aquela mesma noite. Elizabeth ainda se sentia em uma vitrine, seu pai fazendo propagandas desesperadamente para que alguma boa alma (rica alma) mostrasse algum interesse pela filha de cabelos revoltos e olhar selvagem.
- Desça e cumprimente nossos convidados. Vai saber qual será a minha fantasia em alguns minutos.
Com um meio sorriso, Catherine se retirou do quarto em passos vagarosos.


O burburinho aos poucos foi diminuindo, até se transformar em silencio total, em questão de segundos. Uma multidão formada pela alta classe encarava atônita. Mais alguns segundos e o mesmo burburinho retornou, com força total.
Ela encarava, no topo da escadaria atapetada. O pó de arroz cobria-lhe as sardas já naturalmente suaves, os olhos eram contornados fortemente em preto, o batom carmim acentuava a palidez da pele, assim como os tons escuros do vestido. Os fios livres do tão costumeiro coque cobriam-lhe ombros, costas e a parte dos seios que era exposta pelo decote.
- E do que esta vestida, formosa dama? – O tom de voz do homem que a encarava era estranhamente reconfortante e profundo, com um leve sotaque francês. Os olhos apresentavam um brilho fugaz e os lábios um contorno definido, mostrando um sorriso tanto presunçoso.
Com um meio sorriso sarcástico, ela deu a resposta.
- Sou um cadáver fresco.
- Formidável. – Ele sorriu, enquanto estendia a mão em um convite para dançar.
- Não creio que as senhoras ali compartilhem da mesma opinião. – Ela respondeu, enquanto apontava a sua esquerda com o queixo, direção de um grupo de mulheres em fantasias conservadoras que a lançavam olhares reprovadores intercalados com cochichos nos ouvidos umas das outras.
- Inveja, suponho. – A mão ainda estendida, insistindo no convite.
Elizabeth se demorou dois segundos analisando o homem a sua frente, era jovem, talvez alguns anos mais velho que ela, corpo esguio, pele pálida, cabelo escuro, brilhante devido ao fixador, roupas alinhadas (que não pareciam ser uma fantasia) e um olhar castanho e sarcástico, para logo em seguida estender a mão e permitir ser guiada ao ritmo da música que tocava.

Os dois deslizavam pelo salão em movimentos combinados, e a cada giro Elizabeth podia sentir o cheiro de colônia que emanava de seu par e a inebriava. As imagens se alternavam em seu campo de visão. O olhar aguçado do rapaz a sua frente, as senhoras com seus vestidos chamativos e olhares reprovadores, as velas, as mesas e... Seu pai.
A música finalmente chegou ao fim. Ela estava ofegante, ele a mirava com o olhar curioso.
- Perdão – Elizabeth começou, afastando o rapaz com a mão em seu ombro. – Este espartilho não me permite mais que uma dança.
Aproximando-se a ponto de encostar seu corpo no de Elizabeth, o homem se inclinou até alcançar uma de suas orelhas. – Deveria se livrar dele, então.
Ela sentiu um formigamento percorrer-lhe a espinha, mas não teve tempo de reagir. Um segundo depois e ele já havia se afastado e tomado uma postura formal.
- Sou Eric, aliás.
- Elizabeth – respondeu, ainda sem fôlego.
- Eu sei. – o sorriso provocante foi acompanhado de uma reverencia, antes que, em um andar suave, ele desaparecesse por entre as pessoas no salão.

Ela então se virou, para encarar o senhor vestido de arlequim com a expressão entre a serenidade e o sarcasmo.
- Mas o que pensa que está fazendo? – A irritação era perceptível em sua voz, mas Elizabeth respondeu em um tom calmo, quase como o que sua prima usara mais cedo, dizendo que não sabia a que seu pai se referia. Quando suas roupas e maquiagem foram apontadas, a resposta foi simples e inocente.
- É minha fantasia, é para isso que servem as festas a fantasia, certo?
- Para se vestir como uma meretriz que não vê a luz do sol?
Ela então pousou a mão sobre o peito, como se tivesse sido ofendida.
- Papai! Eu sou um cadáver!
Ao ver o rosto de seu pai se tornar vermelho, ela acrescentou
- Talvez eu possa ser uma boneca de porcelana, combinaria mais com o papel que quer que eu represente aqui.
Para logo em seguida se virar novamente e seguir o caminho antes percorrido por Eric. Ela não o encontrou o resto da noite, por mais que o procurasse em cada rosto ali presente.
parte 2

Os convidados se retiraram um a um, depois do jantar seguido pelo pedido de casamento a Catherine. Nenhum outro homem presente olhou Elizabeth com os mesmos olhos que Eric havia olhado. Um pretendente nunca esteve em sua lista de desejos, sequer entre os mais ocultos, mas alguém que a desejasse verdadeiramente e acabasse com a sua solidão era um de seus anseios secretos, e algo no olhar de Eric havia despertado sua atenção de maneira diferente. Foi pensando nisso que ela vestiu sua camisola e escovou os fios ruivos. E foi esse pensamento que embalou seu adormecer.


A folhagem da arvore balançava musicalmente com a brisa. A luz de uma vela iluminava suavemente o rosto da jovem que dormia, serena, em seu leito.
Seus olhos viam mais do que a imagem proporcionada pela luz da vela mostrava. E seu desejo era de estar ali, ao seu lado, não apenas observando sentado em um dos firmes galhos, através da janela.

A luz do sol penetrou com violência o quarto, ferindo os olhos de Elizabeth. Com um palavrão em seu pensamento e um suspiro, ela abriu os olhos. Seu pai a encarava aos pés da cama.

- Gostaria de ter o mínimo de privacidade, ao menos dentro de meu quarto. – sua voz era rouca e sonolenta.
- Por que faz isso?
- O que?
- Por que se recusa a se comportar como a dama que você é?
Com um bocejo, sentou-se na cama, tentando acordar.
- Talvez eu não seja uma dama, pai.
- Você recebeu a educação de uma, foi criada como uma! Porque faz questão de me envergonhar? Por que aquela cena ontem?
- É tão difícil de entender? Não faço questão de te envergonhar, faço questão de ser livre.
O pai suspirou pesarosamente, e se sentou aos pés da cama. O olhar triste fixo em Elizabeth.
- Um dia, filha, vai ter de entender que ninguém neste mundo é livre.
Depois de se levantar e acariciar o rosto da filha, o velho homem se retirou do quarto rumo a qualquer um de seus tantos afazeres, que o haviam afastado de sua cria desde o princípio. Antes até da perda da esposa que jamais amara, ambos vítimas de um casamento por interesses.

A semana se arrastou tranqüila e estranhamente silenciosa. Sem brigas ou discussões. Elizabeth mal via o pai na maior parte do tempo. Era cada vez mais raro vê-lo a mesa para as refeições.
Elizabeth aproveitou o tempo livre de gritos e tensões para tentar relaxar e aproveitar plenamente seus momentos de lazer, mas sempre havia um pensamento ao fundo lhe roubando o foco. Algo errado estava acontecendo, ela podia sentir. E por várias vezes o rosto de Eric aparecia em seus pensamentos. Ele jamais havia aparecido novamente, e o desejo de revê-lo era crescente.
Ela só soube com certeza o que estava errado em uma noite no começo da semana seguinte, quando seu pai chegou em casa e a chamou para uma conversa. Sua expressão era grave.

A notícia veio assim que Elizabeth adentrou ao gabinete do pai e fechou a porta. Ele a havia arrumado um noivo. Segundo suas palavras, alguém rico e vindo de bom berço, que poderia proporcionar uma vida digna. O casamento seria no próximo mês.

Ele não obteve uma resposta. Mal acabara de falar e Elizabeth havia disparado para fora, a porta bateu em um estrondo que foi ouvido no andar de baixo, pelos empregados preocupados. Antes que qualquer um pudesse impedir,ela já estava do lado de fora, oculta pela escuridão da noite de neblina que prometia uma tempestade.

O vento frio fez com que seu coque se desmanchasse, e uma gota gélida sobre sua testa fez com que sua pele se arrepiasse, apesar de sua completa indiferença quanto a isso. Seus passos pareciam seguir o ritmo com o qual as árvores balançavam ao sabor do vento. Lembrou-se de uma história antiga, na qual as árvores espertas permitiam-se dobrar seus troncos e galhos ao vento, enquanto as estúpidas ou orgulhosas recusavam-se a se dobrar em uma tempestade e perdiam galhos... Ou a vida. Pensou que talvez nunca fosse capaz de ser uma árvore com instinto de sobrevivência. Jamais havia dobrado um galho sequer.
A árvore de folhagem vasta que ficava ao lado da janela de seu quarto encobria a iluminação vinda da casa, ninguém a veria andando por ali, e ela continuaria a andar, sem saber o rumo exato que tomaria.

- Sei que um bom banho de chuva na verdade é saudável, mas eu não a aconselharia a ficar aqui fora, no frio e no escuro.
Elizabeth reconheceu a voz de imediato, virou-se para encarar Eric.
- Com certeza vai ser mais saudável para mim que ficar lá dentro. E você, o que está fazendo aqui? – Ela se esforçava para manter o tom casual na voz, apesar de sua curiosidade estar gritando em sua mente.
- Talvez lá dentro ou aqui fora não sejam as únicas opções. – Ele se aproximou e seu rosto se tornou mais visível para Elizabeth
- O que você quer dizer?
Os olhos de Eric apresentavam o mesmo brilho fugaz do dia da festa.
- Não se esqueça de que Catherine está de volta, a família dela não mora muito longe daqui. Os pais dela acabaram de ir para França, ela está sozinha em casa agora.
Ela arregalou os olhos, seus pés a levaram involuntariamente para trás.
- E como sabe disso?
Eric se aproximou e tocou a face já molhada de Elizabeth, as gotas de chuva começavam a cair com mais intensidade. Ele aproximou seus lábios dos dela vagarosamente, ela pode sentir o toque macio, antes de abrir os olhos e perceber que ele não estava mais lá.
Atordoada, Elizabeth começou a caminhar em outra direção.

Um barulho do lado de fora alertou Catherine, que se espreguiçou e levantou da cama para mandar que um dos criados abrisse a porta.

Elizabeth tremia, tanto por causa do frio, quanto por estar atordoada. Quando a criada abriu a porta, se deparou com uma jovem ensopada e com a barra do vestido suja de lama.
- A Catherine está? - sua voz quase não se fazia audível.
A criada pareceu um tanto desconfortável ao responder que ela se encontrava repousando em seu quarto. Convidou-a para entrar e entregou-lhe toalhas e um vestido de Catherine, antes de ir esquentar água para que Elizabeth pudesse tomar um banho.

Duas leves batidas na porta alertaram Catherine novamente. Elizabeth, já seca e aquecida, havia sido informada pela criada que sua prima estava acordada e gostaria de vê-la.
- Está destrancada.
Elizabeth adentrou ao quarto com passos cuidadosos, que foram interrompidos abruptamente assim que esta se deu conta da cena que presenciava.

Catherine estava sentada na frente de uma penteadeira detalhadamente trabalhada. Ela escovava os fios claros vagarosamente, olhando-se no espelho. O azul de seus olhos era vivaz, e um vermelho intenso manchava de seu nariz a seu queixo, assim como parte de sua camisola.
Na cama, estava alguém já sem vida, envolto em sangue. Alguém que Elizabeth reconheceu de imediato. O noivo de sua prima.
O tempo se tornou algo indistinto. Poderiam ter sido segundos ou horas que ela passara ali, observando a cena sem conseguir piscar os olhos, até que uma mão sobre seu ombro a despertasse de seu tranze. Eric estava ao presente novamente.
Os olhos arregalados de Elizabeth passavam de Eric para Catherine em frações de segundo, repetidamente, procurando respostas que ela não conseguia enxergar.

Catherine passou a manga de sua camisola de seda sobre os lábios antes de se levantar e se aproximar de sua prima que, instintivamente, deu dois passos para trás, até bater no corpo imóvel de Eric.

- Não vamos lhe fazer mal. – O efeito calmante de sua voz fez com que o corpo de Elizabeth parasse de tremer, apesar do que via a sua frente.
- Nenhuma de nós duas foi feita para representar o papel que nos foi imposto, Liza. Eric pode nos ajudar.
Os olhos de Elizabeth voltaram para o rosto de Eric.
- Como?
Ele estendeu novamente a mão, e ela aceitou sem exitar, Catherine não saiu do lugar. Elizabeth deixou-se conduzir para fora da casa, onde um vento frio os recebeu. A chuva havia cessado e os criados não estavam mais presentes. Sentiu a mão de Eric tocar-lhe a cintura e trazer seu corpo gentilmente para perto de si. Ela estremeceu ao contato, não ousava se mexer ou oferecer resistência. Sentiu o toque macio de seus lábios em sua orelha. O sussurro era tranqüilizador e provocante ao mesmo tempo.
- Lá dentro ou aqui fora não são as únicas opções...
Os olhos de Elizabeth se fecharam involuntariamente. Os lábios de Eric desceram vagarosamente, com um carinho sutil, percorrendo o caminho até a base de sua garganta. O abraço antes delicado se tornou mais estreito, como se para evitar que Elizabeth fugisse. O vento frio soprou novamente, fazendo com que sua pele se arrepiasse e ela se estreitasse ainda mais contra o corpo de Eric. Este retirou os fios ruivos que o vento jogara contra seu pescoço e rosto, para logo em seguida cravar os dentes na veia pulsante e visível sob a pele macia, e provar do liquido que começava a jorrar. Os braços de Elizabeth o envolveram, e um som fraco que poderia ser de dor ou prazer escapou por entre seus lábios.
Não havia mais forças para que ela se mantesse em pé. Eram os braços dele que a sustentavam. Sua percepção da realidade já se esvaía quando algo a despertou. Algo quente e estranhamente saboroso tocava seus lábios. Eric a beijava suavemente, e ela sentia o gosto do próprio sangue vindo de sua boca. Seu desejo tanto por Eric quando por sangue a impulsionaram a corresponder com voracidade. Sentiu-se satisfeita depois de ter se alimentado do sangue oferecido por ele.
As explicações vieram na noite seguinte, após todos os seus desejos serem saciados.
Eric encontrara Catherine na França, e lá mesmo a libertara das condições nas quais estava presa desde que nascera. Seus pais estavam mortos, na verdade. E o restante de sua família a considerava desaparecida.
Logo após sua chegada, junto a Catherine, Eric observava Elizabeth, não levou muito tempo até que se decidisse por libertá-la também.





Uma mão delicada, porém forte, o segurava pelo pescoço, cortando-lhe o ar. Tudo que conseguia perceber era dor. Algo prendia seus membros, o impossibilitando de se mover. Com seu último fôlego, ele implorou
- Me liberte e eu te dou o que quiser!
Uma voz conhecida soou em seus ouvidos
- Ninguém nesse mundo é livre.


O barulho da porta batendo fez com que pulasse na cama. Passou a mão na testa, para enxugar o suor. O coração estava celerado. Respirou fundo várias vezes, tentando se recuperar do susto. Desde a morte de sua filha, Elizabeth, pesadelos o perturbavam noites a fio, roubando-lhe o sono e a paz. O senhor se esticou para pegar o copo d’água ao lado de sua cama, quando um vulto próximo a porta tomou sua atenção.
O rosto alvo e plácido de Elizabeth o contemplava agora, próximo do seu. Ela usava um vestido branco, que caída levemente por seu corpo. Estava descalça e sem maquiagem, o que a fazia parecer mais nova do que era quando...
A voz acompanhou seu pensamento automaticamente, saindo entrecortada pelo medo.
- Fan-tasma.
Um meio sorriso se fez em seu rosto, enquanto ela negava com a cabeça.
- Sou um cadáver fresco.


O barulho do vidro se quebrando de encontro ao chão acordou a criada. Quando a porta do quarto foi aberta, havia apenas os cacos do copo pelo chão, e o corpo do velho senhor caído sobre a cama, sangue escorrendo por seu pescoço.
Rastros de sangue conduziam janela a fora, para um lugar onde fosse possível esperar a época em que existiram escolhas e liberdade.